APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA

De mãos dadas com a democracia, pela universidade e por direitos

Por que extremistas são contra o PL que combate as fake news? Qual “liberdade” eles defendem?

Você já parou para pensar por que políticos, influencers e veículos de comunicação ligados à extrema-direita são contra medidas que responsabilizam as plataformas digitais e as redes sociais pela disseminação de mentiras, discursos de ódio, estímulo à violência e incentivo a práticas criminosas? 

Por que esses grupos e facções são contra o Projeto de Lei 2630 que combate as fake news e responsabiliza as plataformas digitais e redes sociais que não agem para impedir seu uso criminoso?

Porque isso poderia limitar a sua capacidade de disseminar informações falsas e conquistar apoio, dinheiro e votos, já que seriam abandonados por grande parte de seus seguidores se falassem abertamente sobre o que pensam (sim, eles crescem enganando seus próprios apoiadores).

Você imagina políticos pedindo votos dizendo que são racistas, supremacistas, misóginos, preconceituosos ou autoritários? Você imagina políticos pedindo votos dizendo que parte da população não deve ter direitos? Você imagina políticos pedindo votos afirmando que odeiam os pobres e acham que só ricos devem ter uma vida com qualidade e dignidade? E se eles incentivassem o nazismo abertamente? Ou defendessem claramente a morte de quem pensa diferente? Ou falassem que queriam dar um golpe de Estado para ficar eternamente no poder?

Certamente, teriam menos votos e ainda enfrentariam problemas na Justiça, já que estariam cometendo diversos tipos de crimes ao expressar tais ideias.

É por isso que os militantes e políticos de extrema-direita não podem falar abertamente o que pensam. Eles dificilmente teriam apoio suficiente para crescer na vida política.

Da mesma forma, muitos youtubers, pseudojornalistas e “influencers” extremistas teriam menos seguidores e ganhariam menos dinheiro se expressassem suas ideias reais.

Foi assim que eles encontraram nas mentiras, nas hipocrisias e nos discursos de ódio meios de crescer politicamente ou enriquecer (ou ambos). E é justamente por isso que eles são contrários a qualquer medida que possa impedi-los de usar as redes sociais para mentir em larga escala e espalhar violência.

E o patriotismo, como fica?

As megaempresas internacionais de tecnologia estão fazendo uma campanha difamatória contra o PL das fake news porque não querem se submeter a nenhum tipo de lei brasileira. Elas sabem que se tiverem que restringir a disseminação de mentiras, discursos de ódio e incentivo a crimes, perderiam usuários e lucrariam menos.  

Elas querem continuar agindo à margem das leis brasileiras. E isso nos leva a uma questão fundamental: nossa soberania nacional é menos importante do que o lucro dessas empresas estrangeiras? 

A plataforma de mensagens Telegram, por exemplo, é russa, mas cresceu rapidamente entre os extremistas brasileiros porque não controla o conteúdo que os usuários publicam. Ali, vale tudo, inclusive incentivo ao nazismo, à violência e à morte. De forma proposital, ela não tem escritório no Brasil, porque assim fica mais fácil fugir da Justiça.

Já os representantes do Twitter chegaram a afirmar, em uma reunião com o governo brasileiro no mês de abril, que permitir que usuários homenageiem os criminosos que estão matando estudantes e professoras em escolas seria “liberdade de expressão”.

O Youtube, que pertence ao Google, incentiva o consumo de vídeos extremistas (que são mais engajáveis), inclusive para pessoas que nunca acessam esse tipo de conteúdo.

Assim, sem regulamentação, todas essas plataformas podem decidir qual conteúdo terá mais visibilidade, conforme seus interesses, influenciando diretamente a opinião de dezenas de milhões de brasileiros.

Antes, mensagens de ódio e de incentivo a crimes eram mais restritos à chamada “deep web”, setor obscuro na internet, de difícil acesso para pessoas “comuns”. Hoje, tudo é feito abertamente nessas plataformas digitais de mensagens e nas redes sociais, de forma quase irrestrita. 

Mas, se todos os setores econômicos são regulamentados justamente para impedir abusos e crimes. Por que só as plataformas digitais e redes sociais não seriam? Por que não seguimos o exemplo da Europa e de outros países desenvolvidos, que estão regulando esse setor para restringir as práticas criminosas na internet?

Diante de tudo isso, é possível acreditar que a união entre plataformas digitais, redes sociais e políticos e influenciadores extremistas é gratuita?

Um caso bem real

Vejamos o caso do nefasto ex-presidente Jair Bolsonaro. Passou décadas no submundo da política, cometendo crimes (segundo investigações do Ministério Público) e, enquanto adotava discursos inferiorizando as mulheres, os negros e outros grupos sociais, era apenas um deputado federal considerado medíocre e insignificante no cenário nacional. 

Para se tornar presidente, percebeu que era melhor mudar os discursos e se fingir de patriota, religioso e defensor de “valores morais tradicionais”. 

Assim, “apagou” parte de seu passado para melhorar sua imagem diante dos eleitores. Mas ele nunca teria sido eleito se não tivesse implementado uma estratégia de distribuição massiva de mentiras, ódio e paranoias contra adversários: uma pesquisa realizada pela IDEIA Big Data em novembro de 2018 mostrou que 84% dos eleitores do Bolsonaro acreditaram na história falsa dos “kits gays” (que, verdade, era um livro francês vendido em livrarias), e 74% sobre fraude nas urnas, sendo que 85,2% dos eleitores dele tiveram acesso àquelas fake news no período eleitoral.

Pelas redes sociais e aplicativos de mensagens, ele e seus apoiadores distribuíram mentiras que alcançavam diariamente dezenas de milhões de brasileiros. As pessoas passaram a ser inundadas por conteúdos falsos e ideias paranoicas sobre os adversários políticos deles. 

Assim, ele foi eleito não por ter alguma qualidade ou por seu programa de governo. Bolsonaro e muitos outros políticos foram eleitos porque conseguiram fazer as pessoas acreditarem em tantas mentiras que tiveram mais medo do candidato adversário do que deles.

E Bolsonaro governou por quatro anos dessa mesma forma. Para manter apoio político enquanto afundava o Brasil em uma gigantesca crise econômica e social, continuou mentindo, enganando e disseminando ódio, inclusive, durante a pandemia de Covid-19 (incentivando milhares de apoiadores à morte pela negligência e negacionismo científico) e na disputa eleitoral de 2022, quando viu que seria derrotado e tentou deslegitimar as urnas e o resultado das eleições, incentivando seguidores a tentar um golpe para impedir a posse do candidato eleito.

O extremismo não sobrevive à verdade

 O extremismo político depende fortemente da disseminação de informações falsas, discursos de ódio e estímulo à violência para manter e expandir seu apoio. As fake news são um instrumento poderoso para os extremistas, uma vez que elas são capazes de difundir rapidamente informações falsas para um grande número de pessoas, sem que haja qualquer tipo de verificação ou validação.

As plataformas digitais e as redes sociais têm um papel fundamental na disseminação de fake news e discursos de ódio, uma vez que elas permitem que as informações sejam compartilhadas de forma rápida e ampla, quase sem controle. E, como não há regulamentação, elas não são responsabilizadas pelo uso criminoso que seus usuários fazem da tecnologia. E ainda lucram muito com tudo isso. 

Livres para cometer crimes?

Os extremistas dizem que a liberdade de expressão deve ser ilimitada e que qualquer tentativa de censura é uma violação dos seus direitos. Isso não passa de uma hipocrisia enorme. Eles querem continuar espalhando mentiras e ódio porque é a única forma de eles permanecerem em evidência, ganhando votos e muito dinheiro.

Se não fosse crime disseminar ideias nazistas, certamente haveria muito mais células e militantes neonazistas se organizando e disseminando suas ideias. Da mesma forma, se o racismo não fosse crime, a população negra continuaria sendo vítima de um ciclo interminável de sofrimento, violência e exclusão.

Liberdade de expressão não é um direito absoluto e existem limites para o que pode ser dito ou compartilhado. Nenhuma sociedade sobrevive de forma saudável sem isso. 

Responsabilizar as plataformas digitais e as redes sociais é importante para garantir que as informações compartilhadas sejam verdadeiras e que não promovam o ódio ou a violência. 

Fonte: APUB

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