APUB SINDICATO DOS PROFESSORES DAS INSTITUIÇÕES FEDERAIS DE ENSINO SUPERIOR DA BAHIA

De mãos dadas com a democracia, pela universidade e por direitos

Recorte racial ainda é desafio para docentes ingressarem na pesquisa

Dados cedidos pela própria Universidade Federal de Goiás, Jataí e Catalão revelam a ciência ainda é praticada por professores majoritariamente brancos

Juntas, as universidades federais de Goiás, Jataí e Catalão (UFG, UFJ e UFCAT) possuem 2.994 docentes ativos, sendo somente 74 autodeclarados pretos (2,47%) e 379 pardos (12,65%). Além disso, a representatividade desse grupo na ciência é ainda menor. Os dados são referentes ao Censo da Educação Superior divulgado no ano passado e apontam que, dos 2.392 professores envolvidos com projetos de pesquisa, apenas 2,51% são negros. Embora este cenário esteja mudando, em função do crescimento no número de estudantes pretos nas instituições federais por meio da Lei de Cotas, a realidade é muito evidente: a população negra ainda é restrita ao universo acadêmico, sobretudo quando se trata de ciência.

Secretária Executiva da Associação Nacional de Pesquisadores Negros (ABPN), docente da UFG e coordenadora do Laboratório de Pesquisas em Educação Química e Inclusão, Anna Maria Canavarro Benite explica que, desde o ensino básico, a ciência é ensinada e produzida dentro das instituições escolares de forma universal. Ou seja, não há envolvimento ou iniciativas de inclusão da população negra. “Uma ciência produzida a partir de um lugar único, feita por um sujeito universal para a população universal, proporciona respostas pouco robustas. Somos a maioria autodeclarada negra nesse País, é fundamental que nos envolvam nesse processo. E não estou afirmando que pesquisadores negros vão pesquisar apenas negritude. Não! Nós pesquisamos sobre todos os assuntos”, argumenta a docente que é mestre e doutora em Ciências pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

De acordo com Anna, a própria expansão do Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) pode ser considerada uma Ação Afirmativa. Isso porquê a iniciativa ampliou e proporcionou a abertura de novos cursos e, consequentemente, o número de vagas para servidores e docentes. “Tem muita gente, incluindo professores, que entraram na universidade por meio da política de reservas e que são contra as Ações Afirmativas. Isso porque essas pessoas acreditam em meritocracia, o que é uma falácia. Nós não somos de verdade sujeitos de direitos, é o Estado quem decide quem tem direitos. E o Estado brasileiro sufoca e produz ausências quando não quer falar sobre o nosso maior problema: que somos uma nação racista. O machismo e o patriarcalismo são reproduções do racismo, o primeiro recorte é o racial.”

Inclusão
Recentemente a UFG passou a reservar 20% das vagas para quilombolas e indígenas também na pós-graduação, o que garante participação e envolvimento desse grupo em pesquisas. Anna conta que a ABPN também possui um programa de bolsa de iniciação científica no ensino médio com recorte racial, enfatizando que a inclusão deve se iniciar ainda no ensino básico. Além dessas ações, Anna fundou em 2015 o projeto ‘Investiga Menina’. Com o intuito de incentivar meninas pretas a optarem por carreiras na área de exatas e ciência, a iniciativa promove ações coletivas para o benefício da comunidade escolar, proporcionando experiências que levam a contribuição das mulheres para a criação de recursos científicos e tecnológicos.

O projeto vai de encontro a outro dado preocupante. De acordo com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) de todos os cientistas que realizam pesquisas voltadas às áreas exatas, as mulheres negras representam apenas 5,5% desse montante. Atualmente, o ‘Incentiva Menina’ tem sido desenvolvido com a colaboração de uma escola pública localizada no Setor Vera Cruz, bairro periférico de Goiânia. “Para proporcionar mais acesso à ciência, é preciso que as universidades extrapolem os espaços acadêmicos. E eu faço essa crítica como docente.”, conta.

UFG
Para o reitor da universidade e presidente da Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior, Edward Madureira Brasil, essa desigualdade é fruto de um processo histórico que deve ser enfrentado com medidas concretas para que cada vez mais a instituição, em todos seus níveis, espelhe a diversidade de cor e/ou raça da sociedade brasileira. Ele conta que em 2018, um grupo de integrantes de Coletivos Acadêmicos e de Núcleos de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFG, vinculados a temáticas relativas à equidade racial, direitos humanos e ações afirmativas, apresentou à Universidade um documento que pedia a revisão da forma que a UFG atendia a Lei 12990/2014, que trata da reserva de vagas em concursos públicos. “A gestão da UFG avaliou as diferentes possibilidades e caminhos experimentados no Brasil e estabeleceu uma nova metodologia para a aplicação da reserva de vagas para docentes negros.

A partir de então, a cada cinco vagas, a primeira será reservada aos candidatos que se autodeclararem negros e os concursos realizados desde então já atendem essa nova metodologia que coloca a universidade entre as IFES mais efetivas no cumprimento da Lei de cotas no Brasil.”“A gestão da UFG avaliou as diferentes possibilidades e caminhos experimentados no Brasil e estabeleceu uma nova metodologia para a aplicação da reserva de vagas para docentes negros. A partir de então, a cada cinco vagas, a primeira será reservada aos candidatos que se autodeclararem negros e os concursos realizados desde então já atendem essa nova metodologia que coloca a universidade entre as IFES mais efetivas no cumprimento da Lei de cotas no Brasil.”

Fonte: Ascom ADUFG-Sindicato

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